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A contaminação por agrotóxicos no Brasil atinge uma população em alta vulnerabilidade, considerando os recortes de gênero, raça e território. A avaliação é da arquiteta e urbanista Susana Prizendt, integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida (CPCAPV) e do coletivo MUDA-SP.

Segundo ela, esse é um perfil da população que também é submetida à fome e à insegurança alimentar no país. “Se a fome tem gênero, tem raça e tem endereço, o veneno também.”
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“Quem tem entrado em contato com os venenos, com maior intensidade, são os povos descendentes de negros e de indígenas que estão trabalhando nos campos, nas grandes fazendas, mesmo nas pequenas propriedades que ainda usam agrotóxico. São essas pessoas que também não têm acesso ao alimento agroecológico”, afirmou Prizendt.
A declaração foi dada durante homenagem ao cineasta Sílvio Tendler, após a exibição de seu documentário O Veneno Está na Mesa II, durante o São Paulo Food Film Fest 2025.
Tendler morreu aos 75 anos, em 5 de setembro deste ano. Documentarista premiado, com uma centena de títulos, ele se notabilizou por sua cinematografia de cunho político e histórico.
O filme mostra que, enquanto conglomerados de empresas concentram lucros exorbitantes no setor de alimentos, os trabalhadores rurais, populações próximas a plantações e consumidores sofrem as consequências do uso de agrotóxicos, inclusive acima dos índices recomendáveis.
Tendler produziu também filmes sobre grandes nomes como Josué de Castro – Cidadão do Mundo (1994), médico e filósofo que foi um ativista no combate à fome. Castro é autor das obras O problema da alimentação no Brasil, Geografia da Fome e Geopolítica da Fome.
Prizendt lamenta ainda a falta de uma ampla oferta dos alimentos sem veneno.
“Muitos lugares simplesmente não têm opção [de consumir alimentos livres de agrotóxicos]. Mal tem opção de alimento in natura, porque agora os ultraprocessados estão tomando praticamente todo o espaço. Agora você tem só esse monte de coisa embalada”, disse.
Ultraprocessados
Uma série de artigos publicados por mais de 40 cientistas, liderados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a participação de ultraprocessados na alimentação dos brasileiros mais que dobrou desde os anos 80, passando de 10% para 23%.
As publicações reforçam que o aumento no consumo desses alimentos não é culpa de decisões individuais, mas responsabilidade das grandes corporações globais. De acordo com os autores, essas empresas utilizam ingredientes baratos e métodos industriais para reduzir custos, e impulsionam o consumo com marketing agressivo e designs atraentes.
“E, para quem pensa que os alimentos in natura são os únicos que têm venenos, têm resíduos de venenos, a gente tem pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor [Idec] mostrando que os alimentos industrializados – como biscoito recheado, bisnaguinha, requeijão – também tem resíduos agrotóxicos”, mencionou Prizendt.
O estudo conduzido pelo Idec, que analisou 27 alimentos ultraprocessados, constatou que 59,3% deles continham resíduos de pelo menos um tipo de agrotóxico. Todos os produtos analisados que tinham trigo como ingrediente continham agrotóxicos.
A pesquisa Tem Veneno Nesse Pacote investigou diferentes categorias de alimentos e encontrou agrotóxicos nas seguintes: bebidas de soja, cereais matinais, salgadinhos, bisnaguinhas, biscoito água e sal e bolacha recheada. Além disso, o Idec manifestou preocupação pela presença de agrotóxicos em alimentos destinados ao público infantil.
Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil , Feed Últimas.
Fonte: Agencia brasil EBC..
Sat, 06 Dec 2025 09:02:00 -0300

